O festival de bizarrices iniciado pela presidente brasileiro tão logo assumiu o governo aumenta em velocidade estonteante. Todos os dias a sociedade é brindada por algum disparate do capitão, dos seus filhos ou de algum membro do governo.
Os direitos humanos, como não poderia deixar de ser, são alvos preferenciais de sua arma de proferir sandices. E isto não tem nada de novo, pois se tem algo que o ex-militar fez com devoção em seus 30 anos de vida pública foi vociferar contra negros, mulheres, lgbt’s, indígenas, quilombolas e todos os que lutam por seus direitos.
Na semana passada, seu ministro-chefe da Casa Civil disse que o facínora Pinochet “teve” de dar um banho de sangue no Chile para implantar políticas neoliberais no país, como a que faz com que hoje a maioria dos aposentados daquele país recebam menos de um salário mínimo.
Na segunda-feira desta semana (25/3), o presidente adorador de torturadores recomendou que os quartéis comemorem o golpe civil-militar que implantou uma ditadura de 21 anos de arbitrariedades, censura, prisões, sequestros, torturas, mortes e “desaparecimentos”.
É triste, mas não surpreende. O presidente amigo de milicianos sempre defendeu as atrocidades dos golpistas e quando deputado federal exibia em seu gabinete um quadro em que se lia “quem procura osso é cachorro”, em alusão ao trabalho da Comissão da Verdade para descobrir militantes assassinados na região do Araguaia.
Vários países foram saqueados por ditaduras militares entre as décadas de 1960 e 1970 na América Latina, além do Brasil: Argentina, Uruguai e Chile, entre outros. Mas a diferença fundamental entre nós e estes países é que todos eles, de diferentes formas, estabeleceram políticas para acertar contas com seu passado. Jorge Rafael Videla, principal ditador argentino, morreu na prisão. Manuel Contreras, braço direito número 1 de Pinochet, está preso, cumprindo condenação de 370 anos. Juan María Bordaberry, ditador uruguaio, foi condenado a 30 anos de prisão e foi solto por problemas de saúde, vindo a falecer pouco tempo depois. Fazendo companhia a estes, vários outros torturadores e assassinos foram condenados.
Enquanto isso, aqui no Brasil tivemos passos muito tímidos no sentido de reconhecer os crimes cometidos por militares e apoiadores da ditadura. A Comissão da Verdade foi fundamental para esclarecer crimes, sequestros, desaparecimentos e assassinatos, mas praticamente todas as ações no sentido de condenar judicialmente tais crimes acabaram não se concretizando. O único bandido a ser condenado, Brilhante Ustra, ídolo do presidente tuiteiro, teve condenação cancelada no ano passado.
Assim, fugindo de seu passado, não querendo acertar as contas com seus detratores, nossa fragilíssima democracia a cada dia dá sinais de exaustão. Precisamos acudi-la, antes que seja realmente tarde demais.
DITADURA NUNCA MAIS! PUNIÇÃO AOS ASSASSINOS! VIVA A DEMOCRACIA!
Lauro Borges – Professor de Sociologia no IFSUL Campus Avançado Jaguarão